Entrevista Marcelo Rosenbaum

Simples e sofisticado, erudito e popular, Marcelo Rosenbaum é o cara que enxerga no design uma ferramenta para transformar o Brasil.

Marcelo Rosenbaum é um dos designers mais conhecidos do Brasil. Nascido e criado em uma família de classe média, em Santo André, no ABC paulista, aprendeu a transitar pelo erudito e pelo popular. Conhece o simples e o sofisticado. Já fez projetos para atores globais, publicitários renomados e chefs estrelados. E para muita gente anônima também. Durante sete anos, Rosenbaum participou do popular quadro “Lar doce lar”, no Caldeirão do Huck, um reality que reformava a casa de famílias carentes. Por um par de anos, apresentou o Decora, programa de decoração do canal GNT. “Eu me entrego, me emociono, quero saber da história dos personagens. Brinco que meu trabalho é apenas uma desculpa para me relacionar com as pessoas”, já declarou em relação às suas atuações nos programas. Rosenbaum gosta de se conectar com o outro.

Em 2102, teve uma epifania ao visitar um festival da tribo indígena Yawanawá, em Taraucá, no Acre. Foi a partir dessa e de outras experiências com comunidades que nasceu o projeto e o instituto A Gente Transforma, cuja busca é valorizar a tradição cultural de comunidades brasileiras por meio do design e da arquitetura.

No seu dia a dia, Rosenbaum concilia as suas funções no instituto com convites para cursos, palestras e outros projetos, como o que topou fazer com a incorporadora LOCUS INC.

“Minha vida é andar por esse país.”

De onde vem essa vontade de usar o design como ferramenta de transformação?

É uma inquietação que tenho desde a minha infância de criança solitária. Foi a partir do trabalho que eu comecei a me relacionar com as pessoas, a me comunicar com o mundo. Depois, vieram as oportunidades de criar a conexão entre esses saberes e o mundo contemporâneo, para fazer algo com mais impacto. De que forma minhas ações poderiam ajudar a criar um lugar com menos diferenças, um mundo com mais oportunidades para os outros? Porque eu sou o mesmo que o outro, eu me conecto com o outro. O que separa a gente é geografia, uma situação.

Qual a importância das conexões para o seu trabalho?

Meu trabalho é criar conexões entre os conhecimentos ancestrais e o mundo contemporâneo,
o mercado. Eu vou numa comunidade e, numa conversa, numa troca, estou redesenhando relações, aprendendo. A pessoa está conectada com outras coisas, eu levo uma experiência que tenho, eles me trazem outra experiência que eles têm. A partir daí que nasce um objeto. Esse objeto é fruto desse encontro, dessa investigação, dessa arqueologia afetiva, da escavação de memória.

“Comecei a pensar de que forma minhas ações poderiam ajudar a criar um lugar com menos diferenças. A curadoria de objetos que vou fazer neste projeto é uma ótima oportunidade para expor obras de mestres artesãos.”

Meu trabalho começa pela valorização da ancestralidade, dos saberes, da vocação latente existente em um lugar, num contexto a partir do bioma, a partir da cultura, que faz aquele objeto ser o que é. Quando as pessoas produzem esse objeto com todos esses entendimentos, com toda essa conversa, o objeto carrega algo a mais na sua vibração. Quando ele se torna dinheiro e volta para a comunidade, vai dar liberdade e autonomia. Ele é mais que uma geração de renda, é uma conexão com a sua ancestralidade, com a sua vocação e o seu saber. Conecta essa pessoa com o que a gente chama de design essencial, criando um movimento de economia circular.

Como você enxerga o Brasil?

O Brasil é um projeto de 500 anos. Se a gente fala que foi descoberto, nega-se tudo que existia antes. O que tinha antes é muita coisa, com muito valor, com muita verdade, diversidade e riqueza. O Brasil foi construído com sangue e dor, a partir de escravidão, de apropriação cultural, de massacre cultural. Então, quando a gente mexe e escava isso tudo, valoriza esse saber até então desconhecido.

O que você acha da iniciativa de algumas construtoras que incentivam a arquitetura como um agente integrador entre as áreas públicas e privadas?

Superimportante. A cidade é feita de pessoas e para as pessoas. A arquitetura tem a missão de criar espaços para as pessoas e conexões importantes com a diversidade de conhecimento das populações tradicionais e geograficamente distantes da cidade, mas não menos importantes na criação da identidade brasileira. Para a situação que vivemos, de insegurança, degradação, medo e desconexão com o restante do país, esse é um processo que se faz muito urgente.

O que você entende como um espaço bom para se morar?

Como arquitetura, tem que ter ventilação, iluminação natural, tem que trazer o conforto do espaço. Como decoração, tem que falar a verdade, combinar com a essência da pessoa, com a memória. O importante é que a arquitetura tem essa possibilidade de trazer conteúdo, cultura, e de aproximar a cidade do restante do Brasil por meio de ações que provoquem essa conexão.

O que motivou você a trabalhar com a incorporadora do projeto Central das Artes?

Vou fazer a curadoria de objetos para a área comum do primeiro edifício a ser lançado pela empresa. É uma ótima oportunidade para trazer objetos de mestres artesãos, comunidades e artistas e gerar vendas. Mas não uma venda apenas para obter um resultado financeiro. Os objetos vão estar em um lugar que vai ser valorizado. Esse saber vai ser visto

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *